SANTO DE CABEÇA - COROAS
Na série Santo de Cabeça, o fotógrafo explora as camadas sutis e profundas do Candomblé, mergulhando no simbolismo do “orixá de cabeça” – o guardião espiritual que guia e define a essência de cada ser. Estas imagens são mais do que simples retratos: são janelas para uma dimensão sagrada, onde o corpo se torna uma extensão do divino, e a pele, um território de conexão com o invisível.
A proposta visual da série parte de uma construção estética minuciosa, onde o jogo de luz e sombra não apenas esculpe os corpos, mas também lhes confere um tom de eternidade. O uso deliberado da baixa iluminação cria um ambiente intimista e meditativo, que permite que cada detalhe – as texturas da pele, os traços das mãos, e os símbolos pintados – ganhe uma presença quase palpável, revelando a força espiritual dos orixás. Cada imagem se torna, assim, um espaço de suspensão, onde o tempo parece desacelerar, convidando o espectador a contemplar e a imergir na ancestralidade e na espiritualidade afro-brasileira.
Os símbolos desenhados sobre a pele desempenham um papel fundamental na narrativa. Representando atributos específicos dos orixás, eles são ao mesmo tempo marcas de pertencimento e ferramentas de comunicação visual que situam cada retrato na cosmovisão do Candomblé. Esses símbolos não são apenas decorativos; são expressões de poder, de proteção e de identidade. Cada traço revela uma história única, refletindo a presença do “santo de cabeça” que vigia e orienta, ao mesmo tempo em que fortalece o elo entre o retratado e seu orixá. A escolha dos símbolos e sua disposição cuidadosa transmitem a individualidade e a jornada espiritual de cada pessoa fotografada.
A presença das mãos, dispostas sobre as cabeças e os rostos dos retratados, adiciona uma camada de intensidade e ternura ao trabalho. As mãos são tanto um gesto de proteção quanto de reverência, como se tocassem algo profundamente sagrado e pessoal. Esse detalhe reflete o respeito e a proximidade entre o orixá e seu protegido, simbolizando a conexão quase tátil com o divino. As mãos são como uma ponte entre o físico e o etéreo, representando tanto o ato de cuidar quanto a afirmação de identidade e força.
Em Santo de Cabeça, o fotógrafo nos convida a uma experiência de introspecção e respeito pela riqueza simbólica e espiritual do Candomblé. As imagens não se limitam a representar o visível; elas evocam a presença do invisível, a energia ancestral que permeia cada ser, cada traço, cada sombra. Este trabalho é um tributo ao mistério e à beleza das tradições afro-brasileiras, uma celebração da espiritualidade como força vital e como herança, onde o corpo humano se torna um receptáculo da essência sagrada dos orixás.
Ao apresentar esta série em edital, Santo de Cabeça se posiciona como uma obra essencial para a compreensão e valorização do Candomblé no cenário artístico contemporâneo. É um convite para que o público não apenas veja, mas sinta e perceba o que é estar entrelaçado com o sagrado, onde cada foto pulsa como um coração ancestral, revelando que a espiritualidade e a identidade são indissociáveis e eternas.
SANTO DE CABEÇA - COROAS
Fotos: Dodô Villar